terça-feira, 10 de abril de 2012

Convocação: Ação Conjunta contra liberação do aborto!

CONVOCAMOS TODOS BLOGUEIROS E INTERNAUTAS CRISTÃOS, de todas as denominações religiosas, NÃO-CRISTÃOS e TODOS os defensores da vida humana, PARA DIVULGAR E PARTICIPAR DA AÇÃO CONJUNTA CONTRA A LIBERAÇÃO DO ABORTO pelos 11 ministros(as) do STF – Supremo Tribunal Federal.
1 – VIGÍLIA ECUMÊNICA DE ORAÇÃO PRESENCIAL
Dias 10 e 11.04.2012 – Vigília de Oração Ecumênica em frente ao STF – Supremo Tribunal Federal
(a partir das 18:00 horas do dia 10.04.2012 )
Participações de artistas: Elba Ramalho e Nael de Freitas
2 – VIGÍLIA de ORAÇÃO pela VIDA nas DIOCESES
CNBB convoca VIGÍLIA de ORAÇÃO pela VIDA
em TODAS AS DIOCESES DO BRASIL
Dia 10.04.2012 a partir das 18:00 horas
3 – TWITAÇO VIGÍLIA – #abortonuncamais
A partir das 18:00 horas do dia 10.04.2012, durante toda a noite e durante todo o dia 11.04.2012, até o término do julgamento no STF
4- FACEBOOK E OUTRAS MÍDIAS
Direito à vida aos anencéfalos – Aborto nunca – Saúde para proteger mulher da morte Materna –
CPI da VERDADE sobre o ABORTO,JÁ!
5 – ENVIO DE EMAILS
A partir das 9:00 horas, nos dias 10 e 11.04.2012. até o término do julgamento – envio de emails para os Ministros do STF – Emails dos ministros e TEXTOS abaixo
EMAILS DOS MINISTROS
mgilmar@stf.jus.br, mgilmar@stf.gov.br,
mcelso@stf.jus.br, mcelso@stf.gov.br,
marcoaurelio@stf.jus.br,
gabinete-lewandowski@stf.gov.br,
anavt@stf.gov.br, anavt@stf.jus.br,
carlak@stf.gov.br, carlak@stf.jus.br,
gabminjoaquim@stf.jus.br, gabcob@stf.jus.br, audienciacarmen@stf.jus.br,
audienciasgilmarmendes@stf.jus.br,
gabinete-lewandowski@stf.jus.br,
gabineteluizfux@stf.jus.br,
gabmtoffoli@stf.jus.br
MODELO n. 01 de TEXTO DE EMAIL PARA OS MINISTROS
“Exmo(a) Senhor(a) Ministro(a) do Supremo Tribunal Federal:
1 – Não concordo com a a possibilidade do aborto de bebês anencefálicos e cujo julgamento está marcado para o dia 11 de abril.
2 – A liberação do assassinato de bebês anencéfalos não resolve a principal do problema, apontada pela medicina brasileira: a falta de ácido fólico na época da gestação. Em vez de matar os bebês, melhor será obrigar os governos a dar condição alimentar especial para as gestantes, a partir da fecundação do óvulo.
3 – A liberação do aborto de anencéfalos fere a dignidade humana, pois o bebê apresenta de fato uma má-formação, porém ele não está em morte cerebral. Seguindo o protocolo de definição de morte cerebral para recém nascidos (que, aliás, apresenta particularidades diferentes do protocolo de adultos) não se chega à conclusão de morte encefálica, pois nenhuma técnica pode preencher as exigências legais para comprovar a morte cerebral de um feto vivo, dentro do útero. Inclusive, é de conhecimento público que a Associação Médica dos E.U.A. suspendeu a autorização de doação de órgãos nestes casos, exatamente por não ser possível diagnosticar a morte cerebral das crianças portadoras de anencefalia durante a gravidez ou depois do nascimento, pelo fato de estarem vivas.
4- Não existe risco de morte para a gestante. O argumento de que a gestação de fetos com anencefalia é um risco de morte para a mãe não procede com a literatura da Obstetrícia clássica. Os riscos físicos e para o futuro obstétrico da mãe são menores se houver a espera do desenlace natural da gestação, com acompanhamento médico.
5 – O aborto provocado em qualquer época da gestação é que traz sérios riscos à mãe. Não há base sólida em argumentos médicos e psicológicos para ser solicitada a liberação do aborto no caso de bebês anencefálicos.
6 – É evidente a ingerência de interesses internacionais na liberação do aborto e no uso político das expectativas dessas mães para chegar a esse objetivo.
7 – Por isso, solicitamos de V. Excia que vote NÃO à interrupção da gravidez de bebês com anencefalia, e SIM ao acompanhamento ALIMENTAR, MÉDICO E PSICOLÓGICO das gestantes, as grandes vítimas dessa CULTURA DA MORTE que pretendem implantar no Brasil, com a ajuda da mais Alta CorteBrasileira.
Atenciosamente …….”
MODELO N. 02 DE TEXTO DE EMAIL PARA OS MINISTROS:
Excelentíssimos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal, antes de julgarem a ADPF 54 sobre o aborto dos bebês anencéfalos, peço leiam o que tenho a dizer:
“…Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte…”
Eu, ________________________________________________, venho por meio desta carta manifestar que sou contrário(a) ao aborto em todas as circunstancias, inclusive nos casos em que o feto é portador de anencefalia.
A vida é o maior dom de que dispomos e não compete a ninguém o poder de tirá-la.
Em um Estado Democrático de Direito, é preciso que seja resguardado o primeiro e mais importante Direito Fundamental, o Direito de Viver, sem o qual não se pode obter os demais direitos à saúde, educação, moradia, alimentação e lazer.
Não pode haver justiça numa decisão que opta por retirar a vida de seres inocentes, que se encontram numa situação de tamanha fragilidade como a dos bebes anencéfalos.
É pela vida do bebê e pelo bem-estar da mãe que lutamos.
O Estado deve zelar pelos cuidados para com a gestante e o bebê providenciando o conforto possível e todos os cuidados paliativos cabíveis, de maneira a aliviar o sofrimento. Além disso, devem ser implementadas medidas preventivas (vide art. 198, inc.II da CRFB/88) no sentido de propiciar a ingestão diária de ácido fólico por parte das mulheres em idade fértil, por ser este um meio comprovadamente eficaz de prevenção às malformações do tubo neural, dentre as quais se encontra a anencefalia ou, como mais corretamente denominada meroanencefalia (ausência parcial do encéfalo).
Defendemos que a mãe possa descobrir a importância do seu papel materno no chamado a amar seu filho, mesmo que ele esteja doente ou tenha pouca expectativa de vida.
A vida, mesmo que breve, merece ser vivida com intensidade e amor.
Esta é uma carta de quem ama a vida e luta para que todos tenham vida e a tenham em abundância.
Atenciosamente,
_____________________________________
(Assinatura)
Envie este email para todos os seus conhecidos, amigos, parentes.
Seja você também um defensor da vida humana!
“O País que mata os seus filhos não tem futuro” (Papa João Paulo II no Brasil).
 Fonte: Deus Lo Vult

Bebês anencefálicos podem ser abortados?

O tema representa um sério desafio atual, a ser abordado com serenidade e objetividade, tendo em conta critérios antropológicos e éticos gerais, e também os referenciais do ordenamento jurídico brasileiro, a começar da própria Constituição Nacional. O Supremo Tribunal Federal deverá pronunciar-se sobre a “legalidade” do abortamento de fetos, ou bebês acometidos por essa grave deficiência, que não lhes permitirá viver por muito tempo fora do seio materno, se chegarem a nascer.

A partir da minha missão de bispo da Igreja e cidadão brasileiro, sinto-me no dever de manifestar minha posição e de dizer uma palavra que possa ajudar no discernimento diante da questão. A decisão tem evidentes implicações éticas e morais; desejo concentrar minha reflexão sobre alguns desafios muito específicos, que se referem à dignidade da pessoa e da vida humana.

Em relação aos anencéfalos, existe o pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde para que o Supremo Tribunal Federal reconheça e estabeleça a legalidade da “antecipação terapêutica do parto” desses bebês, com forte pressão de grupos favoráveis ao aborto. No calor de muita emoção, podem não ser adequadamente percebidos os examinados argumentos falaciosos, que acabam por se tornar decisivos.

Os principais argumentos alegados a favor do aborto, nesse caso, são os seguintes:

a. Tratar-se-ia de “vidas inviáveis” fora do útero materno; uma vez que os anencéfalos não sobrevivem por muito tempo fora do seio materno, para que manter semelhante gravidez e levá-la até o fim?

b. A gravidez de um anencéfalo representaria, para a mãe, um sofrimento insuportável, uma verdadeira “tortura”, que degradaria a dignidade da mulher;

c. Tratando-se de uma “anomalia”, o ser daí resultante seria indefinível, um “não-ser”, um “não-humano”; portanto, em relação a ele não entrariam em questão os argumentos do respeito à vida e à dignidade humana;

d. Toda a atenção deveria ser dada à mãe, nesses casos, o único sujeito de direitos e de dignidade, a ser tutelado e protegido pela lei;

e. Os bebês anencéfalos seriam “natimortos”, pois a ausência parcial ou total do cérebro equivaleria à morte cerebral; para que manter tal gravidez? Por isso mesmo, os bebês acometidos por essa anomalia, que chegam a nascer, podem ser colocados na mesma condição dos adultos que estão com “morte cerebral” e seus órgãos poderiam ser retirados e doados.

f. O Brasil é um dos países que têm a maior incidência de anencefalia; seria necessário baixar este triste quadro.

Como se pode perceber facilmente, esses argumentos mereceriam ser examinados profundamente por peritos da área médica, do direito e da ética. De qualquer modo, as implicações morais são graves e não podem ser simplesmente resolvidas na emoção de um debate na opinião pública, ou a partir dos resultados de pesquisas de opinião, o que pode ser uma fácil tentação.

Os principais argumentos empregados pela CNBB são os seguintes:

a. O anencéfalo, malgrado a sua condição, é um ser humano vivo; por isso, ele merece todo o respeito devido a qualquer ser humano; ainda mais, por se tratar de um ser humano extremamente fragilizado; a sociedade, por meio de suas Instituições, deve tutelar o respeito pleno à sua frágil vida e à sua dignidade.

b. O sofrimento da mãe é compreensível e deve ser levado plenamente a sério; mas não pode ser argumento suficiente para suprimir a vida de um bebê com anomalia. Se o sofrimento da mãe, ainda que grande, fosse considerado argumento válido para provocar um aborto, estaria sendo aprovado o princípio segundo o qual pode ser tirada a vida de um ser humano que causa sofrimento grave a um outro ser humano. Não só em caso de aborto...

c. O sofrimento da mãe, que é pessoa adulta, pode e deve ser mitigado de muitas maneiras, quer pela medicina, pela psicologia, pela religião e pela solidariedade social; além disso, trata-se de um sofrimento circunscrito no tempo, que pode mesmo dignificar a mulher que o aceita, em vista do filho; mas a vida de um bebê, uma vez suprimida, não pode ser recuperada; e o sofrimento moral decorrente de um aborto provocado pode durar uma vida inteira. Além do mais, o sofrimento da mãe e o respeito à vida e à dignidade do filho são duas realidades de grandezas e pesos muito diversos e não podem ser, simplesmente, colocados no mesmo nível; o benefício do alívio de um sofrimento não pode ser equiparado ao dano de uma vida humana suprimida.

d. É preconceituoso e fora de propósito afirmar que a dignidade da mãe é aviltada pela geração de um filho com anomalia; tal argumentação pode suscitar, ou aprofundar um preconceito cultural contra mulheres que geram um filho com alguma anomalia ou deficiência; isso sim, seria uma verdadeira agressão à dignidade da mulher.

e. O valor da vida humana não decorre da duração dessa mesma vida, ou do grau de satisfação que ela possa trazer aos outros, ou a ela própria. O ser humano é respeitável sempre, por ele mesmo; por isso, sua dignidade e seu direito à vida é intocável.

f. O cerne de toda a questão está nisso: os anencéfalos são “seres humanos”? São “seres humanos vivos”? Apesar dos argumentos contrários, não há como colocar em dúvida a resposta afirmativa às duas perguntas. Portanto, daí decorre, como conseqüência, que ele deve ser tratado como “ser humano vivo”.

g. Permanece, de toda maneira, válido que só Deus é senhor da vida e não cabe ao homem eliminar seu semelhante, dando-lhe a morte; nem mesmo aqueles seres humanos que não satisfazem aos padrões estéticos, culturais, ou de “qualidade de vida” estabelecidos pela sociedade ou pelas ideologias. A vida humana deve ser acolhida, sem pré-condições; não somos nós que damos origem a ela, mas ela é sempre um dom gratuito. Não é belo, não é digno, não é ético, diante da vida humana frágil, fazer recurso à violência, ou valer-se do poder dos fortes e saudáveis para dar-lhe o fim, negando-lhe aquele pouco de vida que a natureza lhe concedeu. Digno da condição humana, nesses casos, é desdobrar-se em cuidados e dar largas à solidariedade e à compaixão, para acolhê-la e tratá-la com cuidado, até que seu fim natural aconteça.

O Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer é Arcebispo de São Paulo.
São Paulo, 4 de abril de 2012.

domingo, 25 de março de 2012

Deus não faz pobres


Habituados até agora a considerar unicamente o interesse temporal no governo dos homens, os políticos só procuram as causas da miséria na desordem material. Formaram-se assim duas escolas que reproduziram todo o problema social à produção ou à distribuição das riquezas. De um lado, para a antiga escola dos economistas, a maior catástrofe social é uma produção insuficiente e a única solução é acelerá-la, multiplicá-la, através de uma concorrência ilimitada; não há outra lei do trabalho além do interesse pessoal, que é o mais insaciável tirano. De outro lado, a escola dos socialistas modernos vê toda a raiz do mal numa distribuição viciosa dos bens e crê salvar a sociedade suprimindo a concorrência, fazendo da organização do trabalho uma prisão destinada a alimentar seus prisioneiros e ensinando ao povo a aceitar a barganha de sua liberdade pela certeza do pão e a promessa do prazer.

Esses dois sistemas, por caminhos diversos, chegam ao mesmo materialismo. Um reduz o destino humano a produzir; outro, a gozar. Não sabemos se temos mais horror daqueles que humilham os pobres, os operários, a ponto de transformá-los em instrumentos da fortuna dos ricos, do que daqueles que os corrompem até lhes inocular as paixões dos maus ricos.

[...] Deus não faz pobres, não envia criaturas humanas às contingências desse mundo, sem as prover de duas riquezas que são as fontes das demais: a inteligência e a vontade. As riquezas morais tanto são a origem de todas as outras que as coisas materiais só se transformam em riquezas quando atingidas pela inteligência que as elabora e pela vontade que as utiliza... Por que pois pretender esconder ao povo aquilo que ele está farto de saber? Por que querer lisonjeá-lo, como se fazia com os tiranos?

É a liberdade humana que faz os pobres. É ela que seca essas duas fontes primitivas de toda riqueza, a inteligência e a vontade, deixando a primeira se extinguir na ignorância e a segunda se extenuar na devassidão.
ANTOINE FRÉDÉRIC OZANAM, trecho de artigo publicado L'Ere Nouvelle,
Paris, outubro de 1848.
Fonte: NUEC

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

REFLEXÃO SOBRE A VIDA - Dom José Simão



Eu vim para que todos tenham vida,
e a tenham em abundância
” (Jo 10, 10).
Na condição de bispo da Igreja de Jesus Cristo, fui enviado por essa mesma Igreja a essa Igreja particular da Diocese de Assis, a fim de prestar os devidos serviços em favor da obra evangelizadora para o bem dessa porção do povo de Deus, segundo as orientações da sã doutrina e do direito eclesial constituído da referida Igreja. Por isso, escrevo aos cristãos católicos autênticos e também aos pseudos católicos que utilizam a Igreja como instrumento de oportunidades. À todos tenho algo muito importante a dizer a respeito da doutrina eclesial sobre a base da vida. Como é de praxe, aos católicos mais interessados, recomendo uma leitura básica, porém atenta, do Catecismo da Igreja Católica. É necessário que os cristãos católicos conheçam melhor a sua Igreja. O grande problema atualmente, é que muitos católicos ou que se dizem católicos, não conhecem a Igreja, quando não a manipulam para extrair vantagens próprias.
Diante da constatação dos não poucos ataques à vida que constantemente vem à tona por parte de pessoas e entidades de todos os gêneros, em nível nacional e internacional, através dos recursos das diversas modalidades de comunicação empregadas na defesa da cultura de morte, como bispo dessa Diocese, confesso que ultimamente estou muito preocupado diante das atitudes de grupos e pessoas que revelam-se católicos, mas que demonstram pouco ou nenhum conhecimento da doutrina que dizem pertencer, assim como quanto a participação de vida eclesial, quando não existe, pouco deixa a desejar. A partir dessa preocupação, em resposta aos tantos ataques aos direitos à vida humana que ultimamente têm chegado ao meu conhecimento, venho a público em defesa da pessoa do inocente indefeso, ainda na condição de zigoto, embrião e feto. Dirijo-me ao Povo de Deus da Diocese de Assis com essa reflexão sobre a vida, que apesar de sua brevidade, a mesma encontra-se totalmente fundamentada nas fontes da fé e na razão humana. O que lhes escrevo, mais do que eu, é o que a Igreja pensa e reconhece como verdade.
1. A história da vida.
O aparecimento do ser humano na obra da criação constitui um ponto de chegada. Nesse momento, porém, inicia-se a história propriamente dita, que é, em última análise, a história da vida, de seu desenvolvimento, de sua vitória sobre os obstáculos. A vida tende para a plenitude.
Também a vida de cada ser humano é um percurso desde o seu início com a “semente da vida”. O óvulo fecundado já possui identidade. Já é uma pessoa portadora de direitos, porém não de deveres. Já é totalmente um ser humano, pois, ele não virá jamais a tornar-se humano, se não o for desde então. (cf. AAS 66 (1974) p. 738, nn. 12 e 13). Do ponto de vista físico e do ponto de vista espiritual, contém toda a potencialidade para o seu desenvolvimento. É a maravilha do código genético.
O embrião não é parte integrante do corpo materno, mas membro da espécie humana. Não é um simples organismo biológico, mas um novo sujeito de direitos. É uma vida em evolução. É um fim e não um meio. Possui dignidade. A diferença entre o embrião e a pessoa já nascida, situando-se no mundo como criança, adolescente, jovem, adulto e ancião, deve-se a nutrição e ao tempo.
A vida constitui o fundamento mais profundo da ética. O ser humano, ao tomar consciência de sua presença no mundo, se percebe como alguém responsável por um dom recebido, isto é, responsável pela sua vida e pela vida de outros seres, sobretudo, do ser humano.

2. A vida é um dom sagrado.
Deus é o Ser Vivo por excelência. Não só possui a vida em plenitude, mas é a própria fonte da vida. Ele vive pelos séculos dos séculos (cf. Ap 10,6; 15,7). No areópago de Atenas, Paulo ao anunciar o Deus verdadeiro aos pagãos, afirma: “N`Ele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). Jesus afirmou que “o Pai possui a vida em si mesmo” (Jo 5,26). A história da vida começou com um sopro divino sobre a matéria (cf. Gen 2,7). A vida é pois o primeiro dom de Deus. Toda vida é participação na vida divina. Nós vivemos porque um sopro divino nos tornou vivos. Deus, que é a fonte da vida, gravou no coração humano e confirmou com sua revelação este mandamento: “Não matarás!”(Ex 20,13). Trata-se do dever de respeitar e promover a vida, ainda que incômoda, frágil ou deficiente.
3. Atitudes paradoxais diante do dom da vida.
A existência humana está cheia de contradições, sobretudo diante do dom da vida. De um lado, temos o exemplo de mulheres que exultam de encanto e alegria quando percebem que receberam o dom da maternidade. Exultam de encanto e alegria quando tomam em seus braços a criança recém-nascida. Temos o exemplo de pessoas que, cada dia, se consomem para salvar vidas em perigo. Exemplos de pais que acolhem com carinho a vida que nasce com deficiências graves e vai durar poucas horas ou semanas. A mídia anuncia nomes de pessoas que se sacrificam, dia e noite, para salvar vítimas de tragédias de toda a espécie. Anuncia também descobertas da ciência genética destinadas a melhorar a qualidade da vida e a prolongá-la. De outro lado, existe também a postura daqueles que abandonam os filhos recém-nascidos ou destroem a vida antes do nascimento. Aqueles que destroem a vida através da violência, injustiça e guerras. Aqueles que fazem campanhas em favor do aborto e de outras formas de atentados contra a vida. Tudo isso é consequência da grande desorientação no campo da moral. Existem ameaças hediondas, que exigem uma tomada de posição em favor do direito à vida de nossos nascituros.
• Há um programa internacional, que se encontra elaborado no “Relatório Kissinger”, preparado pelo Conselho de Segurança dos Estados Unidos da América em 1974 e mantido secreto até 1989. Neste relatório, que trata de política demográfica, planeja-se que para manter a dominação econômica do primeiro mundo sobre os países do terceiro mundo seria indispensável limitar o crescimento demográfico de 13 países-chaves, entre os quais é citado o Brasil, e como meio mais eficaz para este controle demográfico é indicada a legalização do Aborto. Tudo isto é claramente uma ameaça e uma afronta à nossa soberania nacional. Nos últimos vinte anos, algumas fundações norte-americanas como a Ford, McArthur e Rockfeller têm financiado uma forte campanha contra a vida. Tal promoção, efetiva-se através de parcerias estabelecidas com diversas ONG’s espalhadas por todo o Brasil, que investem na proliferação de idéias e programas favoráveis ao aborto na sociedade. Calcula-se que devem entrar anualmente no Brasil, cerca de US$ 20.000.000 (vinte milhões de dólares), para o sustento do trabalho destas ONG’s. Dentre estas, destacamos as seguintes:
CFÊMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria)
Entidade que monitora e acompanha todos os Projetos de Lei que tramitam no Congresso a favor do aborto, esterilização, anticoncepção e os assim chamados “direitos sexuais e reprodutivos” e “questões de gênero”;
ANIS (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero)
Entidade que planejou e acompanhou todo o processo da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 54) para que o Supremo Tribunal Federal (STF) libere o aborto em caso de anencefalia;
CDD (Católicas pelo Direito de Decidir)
Entidade oportunista, que de católica só usurpam o nome, conforme Declaração da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América. O propósito da atuação destas “falsas católicas” é confundir a opinião pública e a mídia, ao investir na difusão da notícia de que existem setores da Igreja favoráveis ao aborto. Calcula-se que elas recebam cerca de US$ 600.000 (seiscentos mil dólares) por ano para as suas atividades.

• As ameaças contra a vida nascente demonstram intensificar-se para os próximos anos. É sintomática a vontade política dos governantes mundiais que respondem por certas corporações e fundações multinacionais, quanto ao seu investimento em convencer a opinião pública que o aborto é uma questão de saúde pública, que legalização do aborto é útil e necessária para a nação brasileira, sobretudo em favorecimento dos mais pobres. Comprovadamente, a visão funcionalista da Organização das Nações Unidas = ONU (visão que compreende e procura resolver os problemas sociais sempre a partir dos efeitos de nunca das causas) também trilha neste caminho em relação à questão demográfica do mundo, querendo impor-se ideologicamente à todas as nações. A questão da pobreza se resolve com uma política concretamente voltada à distribuição justa e solidária dos bens de produção em favor dos mais desfavorecidos, e não com a implantação do aborto legal. A descriminalização do aborto corresponde à discriminação dos pobres, legalização do homicídio decretado aos inocentes indefesos, uma espécie de “nascituricídio”, é o inicio para descriminalização da eutanásia e de tantos outros atentados à vida humana, que em outras palavras, significa legalização do assassinato às diversas situações e condições da vida humana.
4. A defesa e a promoção da vida são valores suprapartidários e suprareligiosos.
Como a vida é dom fundamental e sagrado, cada pessoa deve ser um servidor da vida, da vida sua e da vida de qualquer ser humano. Servidor da vida que apenas está se iniciando e também da vida em desenvolvimento. Servidor da vida que nasce plena e forte, mas também servidor da vida que nasce frágil e com defeito. Servidor da vida em seu início, mas também servidor da vida que está se aproximando de seu fim natural. Servidor e defensor da vida devem ser os agentes do Estado de direito, pois a essência do Estado é a defesa e a promoção da vida. A defesa da vida é um valor suprapartidário, no sentido de que deve inspirar qualquer política que esteja a serviço da pessoa humana e da sociedade. É também um valor suprareligioso. A inviolabilidade da vida humana, desde o seu início até o seu fim natural, é uma questão de direito natural. Os cristãos encontram em sua fé um motivo a mais para defender esse direito natural. Não se trata pois de impor à sociedade ou a Estado laico uma convicção religiosa, mas de levá-lo respeitar um direito do ser humano. A Igreja, enquanto instituição da sociedade civil, não só pode mas tem também o dever de assim crer e agir.
5. A Igreja, Povo da Vida e pela Vida.
A Igreja faz parte da novidade que a ressurreição de Cristo provocou na história. Ela é o povo da vida e pela vida. O Ressuscitado é o Vivente. Jesus morreu e ressuscitou para que todos tenham vida em abundância. Por isso, a Igreja jamais será contra a vida. Se o fizesse, seria infiel à sua origem, à sua natureza e missão. A sua doutrina contra a prática do aborto, inclusive dos anencéfalos, contra o uso de células embrionárias para a pesquisa científica, contra a eutanásia, além de ser a defesa de um direito natural é também a consequência daquilo que ela é: Povo da vida e pela vida. Chamar de fundamentalismo, de golpismo, de machismo, de atraso, de atitude anticientífica, a defesa corajosa que a Igreja faz da vida é inverter as coisas. É chamar o bem de mal e o mal de bem. Quando isso acontece, a sociedade entra em crise moral e começa a se destruir a partir de dentro.
Fiéis ao Evangelho da vida, exorto o povo de Deus em Assis que intensifique todo tipo de ação educativa em favor da vida e seu acolhimento nas várias pastorais, confrontando a mentalidade antinatalista infiltrada também em nossas comunidades e organismos, pois ela é a porta de entrada da mentalidade abortista, (Cf. EV 13). Várias nações, como Argentina, Costa Rica, Nicarágua, Filipinas, México etc. nos dão exemplo de posição pública antiabortista, apesar da pressão que também sofrem por parte das Organizações e Fundações multinacionais. Recentemente temos o exemplo da Hungria, nação que vem do sistema socialista científico, com base nos avanços das ciências sanitárias moderna, optou constitucionalmente em se opor ao aborto. Tudo isso nos mostra, que a questão do aborto, extrapola os níveis ideológico e religioso, não é uma questão de direita ou esquerda, conservadora ou progressista, capitalista ou socialista, é uma questão de reconhecimento do valor inegociável, indiscutível, sobre a vida humana. A vida da pessoa humana vale por si mesma, é um valor humano incondicional.
Às pessoas de boa vontade, especialmente aos cristãos de todas as confissões e demais seguidores de outras confissões religiosas não cristãs, solicito que, em conjunto e não só isoladamente, que denunciemos o dinheiro estrangeiro que está financiando o trabalho das ONG’s favoráveis ao aborto. Que corajosamente se oponham aos projetos e às decisões que atentam contra a vida. Nesse sentido, no tempo presente em que a Campanha da Fraternidade de 2012 assume a saúde pública com o lema: “que a saúde se difunda sobre a terra”, apoiemos a votação de leis que proíbam a comercialização e o uso, no serviço público, de drogas abortivas, como a chamada “pílula do dia seguinte”. Gravidez não é doença, é vida, é de interesse da saúde pública proteger a vida da mulher e de seu filho quanto ao atendimento ágil, acompanhamento de qualidade e medicamentos precisos às gestantes, sobretudo às mulheres pobres sujeitas à gravidez de risco. Por sua vez, aborto não é questão de saúde pública, aborto é morte e tal prática é irreversível.
Por intercessão de Nossa Senhora que, com seu “Sim”, colaborou na realização do plano de salvação, concebendo em seu puríssimo seio o Filho de Deus, pedimos a Deus, autor da Vida, que abençoe todos aqueles que acolhem, promovem e defendem a vida humana, sua inviolável dignidade. Amado povo diocesano de Assis, que o Bom Deus abençoe nossas famílias e proteja nossos nascituros e crianças da cultura da morte.
“A vida é um presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até à morte natural, sem relativismos”. (DA 464).
Em Cristo Jesus,
Paz e Esperança!
Dom José Benedito Simão
Bispo diocesano de Assis-SP
Fonte: blog da Dom Luiz Gonzaga

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Por que sou católico

G. K. Chesterton
Capítulo Why I am a Catholic, disponível na obra Twelve Modern Apostles and Their Creeds (1926)
Traduzido por Antonio Emilio Angueth de Araujo
Retirado de CHESTERTONBRASIL



A dificuldade em explicar “Por que eu sou Católico” é que há dez mil razões para isso, todas se resumindo a uma única: o catolicismo é verdadeiro. Eu poderia preencher todo o meu espaço com sentenças separadas, todas começando com as palavras, “É a única coisa que ...” Como, por exemplo, (1) É a única coisa que previne um pecado de se tornar um segredo. (2) É a única coisa em que o superior não pode ser superior; no sentido da arrogância e do desdém. (3) É a única coisa que liberta o homem da escravidão degradante de ser sempre criança. (4) É a única coisa que fala como se fosse a verdade; como se fosse um mensageiro real se recusando a alterar a verdadeira mensagem. (5) É o único tipo de cristianismo que realmente contém todo tipo de homem; mesmo o respeitável. (6) É a única grande tentativa de mudar o mundo desde dentro; usando a vontade e não as leis; etc.

Ou posso tratar o assunto de forma pessoal e descrever minha própria conversão; acontece que tenho uma forte impressão de que esse método faz a coisa parecer muito menor do que realmente é. Homens muito melhores, em muito maior número, se converteram a religiões muito piores. Preferiria tentar dizer, aqui, coisas a respeito da Igreja Católica que não se podem dizer mesmo sobre suas mais respeitáveis rivais. Em resumo, diria apenas que a Igreja Católica é católica. Preferiria tentar sugerir que ela não é somente maior que eu, mas maior que qualquer coisa no mundo; que ela é realmente maior que o mundo. Mas, como neste pequeno espaço, disponho apenas de uma pequena seção, abordarei sua função como guardiã da verdade.

Outro dia, um conhecido escritor, muito bem informado em outros assuntos, disse que a Igreja Católica é uma eterna inimiga das novas idéias. Provavelmente não ocorreu a ele que sua própria observação não é exatamente uma nova idéia. É uma daquelas noções que os católicos têm de refutar continuamente, porque é uma idéia muito antiga. Na realidade, aqueles que reclamam que o catolicismo não diz nada novo, raramente pensam que seja necessário dizer alguma coisa nova sobre o catolicismo. De fato, o estudo real da História mostrará que isso é curiosamente contrário aos fatos. Na medida em que as idéias são realmente idéias, e na medida em que tais idéias são novas, os católicos têm sofrido continuamente por apoiarem-nas quando elas são realmente novas; quando elas eram muito novas para encontrar alguém que as apoiasse. O católico foi não só o pioneiro na área, mas o único; e até hoje não houve ninguém que compreendesse o que se tinha descoberto lá.

Assim, por exemplo, quase duzentos anos antes da Declaração de Independência e da Revolução Francesa, numa era devotada ao orgulho e ao louvor aos príncipes, o Cardeal Bellarmine e Suarez, o Espanhol, formularam lucidamente toda a teoria da democracia real. Mas naquela era do Direito Divino, eles somente produziram a impressão de serem jesuítas sofisticados e sanguinários, se insinuando com adagas para assassinarem os reis. Então, novamente, os casuístas das escolas católicas disseram tudo o que pode ser dito e que constam de nossas peças e romances atuais, duzentos anos antes de eles serem escritos. Eles disseram que há sim problemas de conduta moral, mas eles tiveram a infelicidade de dizê-lo muito cedo, cedo de dois séculos. Num tempo de extraordinário fanatismo e de uma vituperação livre e fácil, eles foram simplesmente chamados de mentirosos e trapaceiros por terem sido psicólogos antes da psicologia se tornar moda. Seria fácil dar inúmeros outros exemplos, e citar o caso de idéias que são ainda muito novas para serem compreendidas. Há passagens da Encíclica do Papa Leão sobre o trabalho [conhecida como Rerum Novarum, publicada em 1891] que somente agora estão começando a ser usadas como sugestões para movimentos sociais muito mais novos do que o socialismo. E quando o Sr. Belloc escreveu a respeito do Estado Servil, ele estava apresentando uma teoria econômica tão original que quase ninguém ainda percebeu do que se trata. E então, quando os católicos apresentam objeções, seu protesto será facilmente explicado pelo conhecido fato de que católicos nunca se preocupam com idéias novas.

Contudo, o homem que fez essa observação sobre os católicos quis dizer algo; e é justo fazê-lo compreender muito mais claramente o que ele próprio disse. O que ele quis dizer é que, no mundo moderno, a Igreja Católica é, de fato, uma inimiga de muitas modas influentes; muitas delas ainda se dizem novas, apesar de algumas delas começarem a se tornar um pouco decadentes. Em outras palavras, na medida em que diz que a Igreja freqüentemente ataca o que o mundo, em cada era, apóia, ele está perfeitamente certo. A Igreja sempre se coloca contra a moda passageira do mundo; e ela tem experiência suficiente para saber quão rapidamente as modas passam. Mas para entender exatamente o que está envolvido, é necessário tomarmos um ponto de vista mais amplo e considerar a natureza última das idéias em questão, considerar, por assim dizer, a idéia da idéia.

Nove dentre dez do que chamamos novas idéias são simplesmente erros antigos. A Igreja Católica tem como uma de suas principais funções prevenir que os indivíduos comentam esses velhos erros; de cometê-los repetidamente, como eles fariam se deixados livres. A verdade sobre a atitude católica frente à heresia, ou como alguns diriam, frente à liberdade, pode ser mais bem expressa utilizando-se a metáfora de um mapa. A Igreja Católica possui uma espécie de mapa da mente que parece um labirinto, mas que é, de fato, um guia para o labirinto. Ele foi compilado a partir de um conhecimento que, mesmo se considerado humano, não tem nenhum paralelo humano.

Não há nenhum outro caso de uma instituição inteligente e contínua que tenha pensado sobre o pensamento por dois mil anos. Sua experiência cobre naturalmente quase todas as experiências; e especialmente quase todos os erros. O resultado é um mapa no qual todas as ruas sem saída e as estradas ruins estão claramente marcadas, todos os caminhos que se mostraram sem valor pela melhor de todas as evidências: a evidência daqueles que os percorreram.

Nesse mapa da mente, os erros são marcados como exceções. A maior parte dele consiste de playgrounds e alegres campos de caça, onde a mente pode ter tanta liberdade quanto queira; sem se esquecer de inúmeros campos de batalha intelectual em que a batalha está eternamente aberta e indefinida. Mas o mapa definitivamente se responsabiliza por fazer certas estradas se dirigirem ao nada ou à destruição, a um muro ou ao precipício. Assim, ele evita que os homens percam repetidamente seu tempo ou suas vidas em caminhos sabidamente fúteis ou desastrosos, e que podem atrair viajantes novamente no futuro. A Igreja se faz responsável por alertar seu povo contra eles; e disso a questão real depende. Ela dogmaticamente defende a humanidade de seus piores inimigos, daqueles grisalhos, horríveis e devoradores monstros dos velhos erros. Agora, todas essas falsas questões têm uma maneira de parecer novas em folha, especialmente para uma geração nova em folha. Suas primeiras afirmações soam inofensivas e plausíveis. Darei apenas dois exemplos. Soa inofensivo dizer, como muitos dos modernos dizem: “As ações só são erradas se são más para a sociedade.” Siga essa sugestão e, cedo ou tarde, você terá a desumanidade de uma colméia ou de uma cidade pagã, o estabelecimento da escravidão como o meio mais barato ou mais direto de produção, a tortura dos escravos pois, afinal, o indivíduo não é nada para o Estado, a declaração de que um homem inocente deve morrer pelo povo, como fizeram os assassinos de Cristo. Então, talvez, voltaremos às definições da Igreja Católica e descobriremos que a Igreja, ao mesmo tempo que diz que é nossa tarefa trabalhar para a sociedade, também diz outras coisas que proíbem a injustiça individual. Ou novamente, soa muito piedoso dizer, “Nosso conflito moral deve terminar com a vitória do espiritual sobre o material.” Siga essa sugestão e você terminará com a loucura dos maniqueus, dizendo que um suicídio é bom porque é um sacrifício, que a perversão sexual é boa porque não produz vida, que o demônio fez o sol e a lua porque eles são materiais. Então, você pode começar a adivinhar a razão de o cristianismo insistir que há espíritos maus e bons; e que a matéria também pode ser sagrada, como na Encarnação ou na Missa, no sacramento do casamento e na ressurreição da carne.

Não há nenhuma outra mente institucional no mundo que está pronta a evitar que as mentes errem. O policial chega tarde, quando ele tentar evitar que os homens cometam erros. O médico chega tarde, pois ele apenas chega para examinar o louco, não para aconselhar o homem são a como não enlouquecer. E todas as outras seitas e escolas são inadequadas a esse propósito. E isso não é porque elas possam não conter uma verdade, mas precisamente porque cada uma delas contém uma verdade; e estão contentes por conter uma verdade. Nenhuma delas pretende conter a verdade. A Igreja não está simplesmente armada contra as heresias do passado ou mesmo do presente, mas igualmente contra aquelas do futuro, que podem estar em exata oposição com as do presente. O catolicismo não é ritualismo; ele poderá estar lutando, no futuro, contra algum tipo de exagero ritualístico supersticioso e idólatra. O catolicismo não é ascetismo; ele, repetidamente no passado, reprimiu os exageros fanáticos e cruéis do ascetismo. O catolicismo não é mero misticismo; ele está agora mesmo defendendo a razão humana contra o mero misticismo dos pragmatistas. Assim, quando o mundo era puritano, no século XVII, a Igreja era acusada de exagerar a caridade a ponto da sofisticação, por fazer tudo fácil pela negligência confessional. Agora que o mundo não é puritano mas pagão, é a Igreja que está protestando contra a negligência da vestimenta e das maneiras pagãs. Ela está fazendo o que os puritanos desejariam fazer, quando isso fosse realmente desejável. Com toda a probabilidade, o melhor do protestantismo somente sobreviverá no catolicismo; e, nesse sentido, todos os católicos serão ainda puritanos quando todos os puritanos forem pagãos.

Assim, por exemplo, o catolicismo, num sentido pouco compreendido, fica fora de uma briga como aquela do darwinismo em Dayton. Ele fica fora porque permanece, em tudo, em torno dela, como uma casa que abarca duas peças de mobília que não combinam. Não é nada sectário dizer que ele está antes, depois e além de todas as coisas, em todas as direções. Ele é imparcial na briga entre fundamentalistas e a teoria da Origem das Espécies, porque ele se funda numa origem anterior àquela Origem; porque ele é mais fundamental que o Fundamentalismo. Ele sabe de onde veio a Bíblia. Ele também sabe aonde vão as teorias da Evolução. Ele sabe que houve muitos outros evangelhos além dos Quatro Evangelhos e que eles foram eliminados somente pela autoridade da Igreja Católica. Ele sabe que há muitas outras teorias da evolução além da de Darwin; e que a última será muito provavelmente eliminada pela ciência mais recente. Ele não aceita, convencionalmente, as conclusões da ciência, pela simples razão de que a ciência ainda não chegou a uma conclusão. Concluir é se calar; e o homem de ciência dificilmente se calará. Ele não acredita, convencionalmente, no que a Bíblia diz, pela simples razão de que a Bíblia não diz nada. Você não pode colocar um livro no banco das testemunhas e perguntar o que ele quer dizer. A própria controvérsia fundamentalista se destrói a si mesma. A Bíblia por si mesma não pode ser a base do acordo quando ela é a causa do desacordo; não pode ser a base comum dos cristãos quando alguns a tomam alegoricamente e outros literalmente. O católico se refere a algo que pode dizer alguma coisa, para a mente viva, consistente e contínua da qual tenho falado; a mais alta consciência do homem guiado por Deus.

Cresce a cada momento, para nós, a necessidade moral por tal mente imortal. Devemos ter alguma coisa que suportará os quatro cantos do mundo, enquanto fazemos nossos experimentos sociais ou construímos nossas Utopias. Por exemplo, devemos ter um acordo final, pelo menos em nome do truísmo da irmandade dos homens, que resista a alguma reação da brutalidade humana. Nada é mais provável, no momento presente, que a corrupção do governo representativo solte os ricos de todas as amarras e que eles pisoteiem todas as tradições com o mero orgulho pagão. Devemos ter todos os truísmos, em todos os lugares, reconhecidos como verdadeiros. Devemos evitar a mera reação e a temerosa repetição de velhos erros. Devemos fazer o mundo intelectual seguro para a democracia. Mas na condição da moderna anarquia mental, nem um nem outro ideal está seguro. Tal como os protestantes recorreram à Bíblia contra os padres e não perceberam que a Bíblia também podia ser questionada, assim também os republicanos recorreram ao povo contra os reis e não perceberam que o povo também podia ser desafiado. Não há fim para a dissolução das idéias, para a destruição de todos os testes da verdade, situação tornada possível desde que os homens abandonaram a tentativa de manter uma Verdade central e civilizada, de conter todas as verdades e identificar e refutar todos os erros. Desde então, cada grupo tem tomado uma verdade por vez e gastado tempo em torná-la uma mentira. Não temos tido nada, exceto movimentos; ou em outras palavras, monomanias. Mas a Igreja não é um movimento e sim um lugar de encontro, um lugar de encontro para todas as verdades do mundo.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O preço da vitória - Beato Anacleto González Flores

O preço da vitória
Por Beato Anacleto González Flores
Publicado no Tomado de Glaudim

O preço da vitória tem sido sempre de sacrifício, de martírio e de sangue.

Os primeiros cristãos puderam afastar os césares e a todos os perseguidores para o deserto da derrota; mas antes tiveram que batizar com seu sangue a juba dos leões do circo e das arenas ardentes onde combateram com os imperadores.

A Igreja continua e continuará fazendo sua peregrinação através de um caminho de espadas.

A mão dos fortes se abrirá para afogá-la, como desejaram os primeiros perseguidores e será necessário que minuto a minuto se repita o encontro e que corações, espíritos, corpos e consciência padeçam as torções de dor e as angústias e as fadigas da luta.

Um dia será sob o golpe do aço que     corta a carne de homens inermes; outras vezes sob o golpe da caneta, do pensamento e das palavras; mas, minuto a minuto terá que repetir, terá que se renovar forte, profunda e viva, a batalha de todos os dias, de cada instante, de todos os momentos.

E minuto a minuto será preciso que Deus contribua, é certo, com a força de seu braço; mas minuto a minuto será também preciso, será indispensável, será imprescindível, que cada católico contribua com sua ajuda de dor, de fadiga, de sangue, para alcançar a vitória.

E apesar de nossas covardias, desorientação, medo e preguiça, o preço da vitória de Deus por meio dos homens – ali está a história para comprová-lo – tem sido e será sempre angustia, fadiga, imolação da carne, do espírito e da vida.

De tal maneira que se os católicos não aceitem, não dêem o tributo da amargura, de luta que devemos dar todos, a vitória não virá.

Nada tem custado tanto até agora aos homens e aos povos como a vitória, porque a vitória é o que mais custa de tudo!

Nós temos querido conquistá-la ao preço de nossa covardia e de nossa inércia.

Por isto ela não veio. Teremos que comprá-la. Para conquistá-la teremos que pagar integralmente seu preço de dor, de sangue ou pelo menos de cansaço e esforço.

Nós estamos posicionados muito claramente diante dessa duas opções: ou pagamos plenamente o preço da vitória e logremos tê-la em nossas mãos; ou nos negamos, como agora, a pagar o preço total e então deveremos pensar que estamos condenados a levar para sempre a algema e o sinal desonroso dos derrotados.

Paguemos o preço da vitória!

Hoje com um débil esforço e com sacrifício insignificante.

Amanhã, diante do potro[1] [instrumento de tortura] e com o corpo ensangüentado.

A vitória não tardará!




[1] Potro é um antigo instrumento de tortura. Era uma espécie de cavalo de madeira em cima do qual o torturado era colocado, sendo os seus membros atados a um torno, que uma vez acionado, retesava as cordas e deslocava os membros da vítima. (Wikipédia)

FLORES, Anacleto González. Obras de Anacleto González Flores. Guadalajara: Ayundamento, 2005. 322-324 p.